Por que sempre haverá menos estacionamentos do que o necessário?
É da rotina dos brasileiros, sobretudo do
paulistano, encontrar estacionamentos lotados, sem vagas e com preços
abusivos. Embora essa situação comum seja desconfortável, do ponto de
vista econômico isso é totalmente compreensível.
Alguns empreendedores, ao analisar uma
oportunidade de investimento, olham apenas o retorno de um
empreendimento e se esquecem de considerar os ganhos que teriam com
outras escolhas.
É aí que entra um dos mais importantes
conceitos de economia: o conceito de Custo de Oportunidade, que pode ser
entendido como “o rendimento do qual abdicamos ao fazermos uma
determinada escolha”. Por exemplo, ao investirmos na bolsa de valores,
estamos abrindo mão de um rendimento na poupança ou tesouro direto,
considerado sem risco. Para que o nosso retorno em ações seja
considerado razoável ele deve ser no mínimo superior àquele do qual
abrimos mão.
É sob esse ponto de vista que um
estacionamento nunca é um bom negócio. Imagine um empreendedor que
deseja abrir um estacionamento. Agora pense nos dois extremos: um local
central, perto de escritórios, do centro da cidade e outro local isolado
perto apenas de residências.
Fazer um estacionamento em um local
afastado não é interessante pois não há demanda para isso. Não à toa
esses estacionamentos perto de bairros costumam ficar às moscas.
Agora pense na situação oposta: um local
central, com escritórios, lojas etc. Se há uma concentração de pessoas
excessivas, um estacionamento poderia gerar uma receita razoável para um
empreendedor. Mas o que ele deve ter em mente é o que se está abrindo
mão ao construir um estacionamento, ou seja, o famoso custo de
oportunidade.
Nesse caso, o custo de oportunidade é
extremamente alto, pois o empreendedor poderia ganhar com o imóvel, que
geralmente é extenso, alugando-o, construindo um prédio comercial ou
mesmo vendendo-o para uma imobiliária.
Para ilustrar o raciocínio, vamos
utilizar um exemplo: imagine um estacionamento localizado na região
valorizada do Itaim Bibi, na cidade de São Paulo. Calcularemos o exemplo
para um estacionamento de 30 vagas. Como uma vaga para um carro médio
na cidade de São Paulo tem de ter pelo menos 2.1 metros por 4.7 metros, o
estacionamento terá 462m² (21mx22m) quando acrescentamos área para
manobras. A imagem ao lado ilustra o exemplo.
A região tem escritórios de alto padrão e
restaurantes caros, logo, o metro quadrado da região é caro. Segundo o
índice FipeZap, o metro quadrado da região custa aproximadamente
R$9.000. Imaginando que o dono do terreno, que custa R$4.158.000,00,
opte por vender o terreno e aplicar tudo no Tesouro Nacional, que tem
risco zero, calculamos que essa aplicação renderia, após impostos,
R$19.845,01 ao mês com a taxa Selic a 7,25% ao ano.
Ao invés de vender e aplicar no Tesouro,
no entanto, o dono pode optar por operar um estacionamento. Nós fizemos o
cálculo para um estacionamento que cobra mensalidades de R$400,00 e tem
um preço médio da hora de R$10 para carros avulsos, gerando uma receita
mensal de R$28.840 que, reduzida dos custos e impostos, geraria um
lucro líquido mensal de R$11.162.
Portanto, mesmo com premissas favoráveis à
operação do estacionamento, aplicar o dinheiro da venda do terreno na
poupança ainda assim é mais vantajoso (afinal, R$19.845,01 é mais que
R$11.162). Ou seja, operar um estacionamento é pior do que deixar o
dinheiro do terreno parado na em uma aplicação do Tesouro Nacional, que é
o investimento com risco zero e baixo retorno.
Logo, não há dúvidas que um
empreendimento imobiliário, com alto valor agregado geraria mais
retorno. Os aluguéis e taxas de administração pagos pelas grandes
empresas que utilizam esses prédios e regiões como Faria Lima, por
exemplo, geram um fluxo de caixa muito mais interessante do que um
simples espaço vazio com carros entrando e saindo, por maior que seja
esse fluxo.
É por isso que encontramos essa falha de
mercado, ou seja, sempre vai haver menos estacionamentos do que o
necessário, porque do ponto de vista empresarial, construir algo desse
tipo não é economicamente interessante. Não por coincidência, a cada dia
nessas regiões os grandes estacionamentos dão lugar a prédios luxuosos,
e qualquer novo bairro com essas características que venha a surgir
terá o mesmo destino. Infelizmente, a não ser que seja tomada alguma
medida, os paulistanos continuarão a sofrer com a falta de
estacionamentos e abuso de preços.
Fonte: Folha de S. Paulo
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